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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

DE ONDE VEM A ÁGUA QUE BEBEMOS




     Este artigo eu escrevi há mais de 30 anos para um jornal de bairro da Barra da Tijuca. 
Tudo o que está acontecendo hoje já era previsto até por um leigo como eu.

                 Entre a água que nasce cristalina nas serras e chega aparentemente pura às nossas torneiras, muitas coisas acontecem.
             O consumo de água aumenta com o crescimento das cidades. Um dos maiores problemas é o caminho por onde ela passa para chegar aos lares consumidores. 
            A maior parte da água consumida no Rio de Janeiro vem do "Sistema Guandu", formado pelo bombeamento de águas do super poluído Paraíba do Sul. 
                 O rio Paraíba do Sul vem sendo poluído desde a sua nascente no município de Jacareí, interior de São Paulo. A formação do rio começa nas serras do Mar e Bocaina, mas só se avoluma ao receber os afluentes Paraitinga e Paraibuna, onde existe uma empresa da CESP.                    Ainda no território paulista o rio já é altamente poluído, pois recebe esgotos domésticos de favelas, postos de combustíveis e indústrias. Quando passa por Caçapava a situação já é caótica. Em Vila Paraíba, São José dos Campos e Guaratinguetá, o Paraíba do Sul já aparece em estado lastimável. Ao chegar à Barra do Piraí suas águas já estão altamente contaminadas. Em Itatiaia, Rezende e Volta Redonda recebe cargas tóxicas de várias indústrias e principalmente das usinas siderúrgicas. 
             Dos seus 1137 quilômetros de extensão, o Paraíba do Sul tem 500 quilômetros no estado do Rio de Janeiro, cortando mais de quarenta municípios com centenas de indústrias poluidoras, favelas sem saneamento básico e lavouras contaminadas por agrotóxicos, só no território fluminense. 
              Antes de chegar à estação de tratamento, as águas recebem também inúmeros poluentes domésticos dos moradores que circundam o Rio Guandu que passa por cidades como Nilópolis, Queimados, Nova Iguaçu e tantas outras. As águas das chuvas transportam lixo e despejos industriais, esgotos residenciais, lixo acumulado nas ruas e favelas que passam a fazer parte das águas do Paraíba do Sul e do Guandu. 
               Apesar do esforço consciente de muitos cidadãos e autoridades preocupadas com o meio ambiente, os dois rios estão se tornando um imenso depósito de lixo. A situação tende a agravar-se pelo aumento populacional ribeirinho, pela instalação de novas indústrias e favelas, além da devastação das florestas remanescentes. 
            Diariamente são lançadas toneladas de poluentes químicos, substâncias altamente danosas ao organismo humano e animal. Coisas como cádmio, chumbo, cromo, mercúrio, fenóis, cianetos e tantos outros que podem causar incalculáveis danos à saúde.
           Para garantir uma água potável em nossas torneiras, diariamente acontece uma verdadeira operação de guerra na estação de tratamento Guandu. Uma árdua luta contra a tragédia causada pela irresponsabilidade do bicho homem. Além do grande trabalho diário, temos o enorme consumo de produtos químicos usados no tratamento. São produtos químicos combatendo produtos químicos e, certamente, seus resíduos serão  absorvidos pelo organismo dos consumidores. Quanto maior for a poluição, tanto maior será o consumo destes produtos que a cada dia encarecem mais o custo final da água. 
                 Quando o consumo aumenta, maior quantidade de água terá de ser tratada para nos abastecer. Com o consumo exagerado passando pela estação de tratamento, fica difícil garantir que toda a água será realmente de boa qualidade. Até quando seremos abastecidos regularmente só Deus sabe. 
             Este problema de  difícil solução não é apenas do Rio de Janeiro e São Paulo. Na verdade isto está acontecendo em todas as grandes cidades. 

Nicéas Romeo Zanchett 

Só lembrando que este artigo foi escrito há 28 anos.